quinta-feira, 17 de abril de 2008

Diário-construção I

É, realmente, um processo curioso, este o de se tentar encontrar a melhor forma de emprestarmos aquilo que somos a esta personagem que sempre lá esteve e que só agora me bateu à porta. Não que não o tivesse tentado fazer antes, porque o fez, ainda que numa outra pele... Mas, nem percebo muito bem o motivo, está a ser particularmente difícil fazê-lo. Será o cansaço do dia-a-dia? A falta de referências que me ajudam a encontrar o melhor caminho? Sem dúvida que este ensaio ajudou, e muito, na procura de soluções. Foi estranho o exercício do guarda-chuva... mas extremamente eficaz. Sem me aperceber, surgiu, como que por magia, uma referência. A postura é muito diferente daquela que tinha imaginado, inicialmente, para esta personagem. Há uma abertura muito maior, um pedantismo também. Incluir a dose de "mau feitio" não vai ser fácil em alguém que se está, efectivamente, a revelar muito timidamente e com pouca vontade (muito pouca vontade mesmo!).
Tem sido um pouco angustiante o exercício da apresentação. Talvez pela insegurança do texto, talvez pela dificuldade em saber (quem és tu)... talvez nada disto interesse, até. Continuo a achar que o processo de criação de algo que afinal já lá está é único e é na procura que nos vamos revelando um pouco, que vou crescendo. Os fantasmas tão bem ditos por Pedro Abrunhosa vão desaparecendo, ainda que outros se lhes sigam. Mas é algo que está em constante movimento, em que se sente a novidade. Dou por mim a fazer gestos que parecem vir de um actor-outro, sem me reconhecer. Depois, apercebo-me, mais uma vez, que a intencionalidade das acções torna tudo mais fácil. Mas quando é chegado o momento de actuar, quase tudo parece voltar ao princípio e voltam a surgir as dificuldades. Mas no fundo, no fundo, é isto que é a Vida. Chegará o momento em que tudo estará construído, em que a entidade que paira sobre mim no momento do palco ali estará para me abraçar, em que o olhar daqueles que nos vão falar e ver será o olhar-gostava-de-fazer-isso-também. E a missão estará cumprida porque voltei a crescer. Como actor. Como pessoa.
E fecha-se a cortina.
Paulo Martins

quinta-feira, 10 de abril de 2008

...e o regresso desejado...

Foi incómodo o exercício. Não só pela dificuldade de o fazer mas porque os vários palcos que vamos percorrendo ao longo do dia-a-dia nos levam a esquecer texto, a tornar ausente aquilo que já parecia uma verdade. Mas chegar ao fim do dia com a sensação que tudo vai voltar a acontecer é fantástico. Promete ser uma experiência muito boa. E viva o teatro.
Sempre.
E fecha-se a cortina.
Paulo Martins