Muitas vezes dou comigo a pensar naquilo que sinto quando represento, no antes e no depois.
Os momentos que antecedem a minha entrada no palco são os mais emotivos. É sempre naqueles segundos iniciais que sinto uma enorme vontade de soltar as lágrimas. Penso que seja o facto de dar nome, corpo e alma a alguém que são muitas pessoas que não conheço, que me arrepia e assuta. Acho que é nesse momento que me transformo verdadeiramente na personagem e me distancio de mim. É como se fosse o momento do parto em que finalmente se respira neste mundo pela primeira vez.
Durante a peça os sentimentos são muito diversos, são os da minha personagem, os da contracena, os da espera enquanto observo os restantes actores aguardando a minha vez. São todos os sentimentos desde a ansiedade, à surpresa, raiva, pena, alegria, fascinio ou tristeza. Todos eles aparecem. Se não de uma vez, aparecem numa outra oportunidade, mas não se inibem de se manifestar.
No final é usualmente a alegria do trabalho bem feito, do público satisfeito, mas acima de tudo é o quentinho no coração que assinala mais um bonito momento vivido por mim e pelo grupo nesta nossa tentativa de ser um pouco mais e melhor de cada vez que somos outros que não nós (até mesmo quando os nomes coincidem).
A verdade é que os palcos, sejam eles os do teatro ou os da vida real, são plenos em sentimentos. Uns fazem sentir-nos completos, outros vazios, outros ainda são motivo de tranquilidade, outros de desassossego. Respira-se sentimentos e dia após dia são eles que nos fazem ganhar ou perder as pequenas batalhas do dia a dia e nos fazem crescer.
Afinal o teatro é a vida e a vida é um teatro.
Sónia Ferreira