domingo, 4 de março de 2007

cena IV

Difícil.
Muito.
O pedido feito pelo já em distância paulo-outro. Recuperar as memórias que nos fazem outro(s). Foi penoso, desta vez. Este processo só consegue ser verdadeiramente compreendido por quem tem este privilégio. Uns poderão pensar que é coisa de artistas. A mania da diferença.
Que pobres de vivências são eles! Que pobres de plenitudes e liberdades são eles!
O palco. Especial e Único. As iniciais de EU que somos todos nós.

Na procura do paulo-outro foi preciso, desta vez, tornar ausente-pó aqueles que se querem eternos. E é nesta oposição, devoradora e muito sofrida, que se vai criando uma personagem... será só?... A realidade tornada teatro. Um telemóvel. A morte. A procura de uma resposta, no palco nunca encontrada, pela dificuldade do processo.
Neste amadorismo teatral... ou neste teatro amador...?... os empréstimos do paulo-eu são feitos de pequenas fusões. Nunca poderá ser total, pois a perda de nós próprios seria destrutiva. Para isso, temos a mão, os conselhos, a atenção e consciência de um outro que nos sobrevoa e acolhe. E esse, só nós verdadeiramente o vemos. E é, então, com um sorriso, que podemos ser o menos bom de nós, o mais assustador, aquele que faz o que nunca faríamos noutros contextos. E o que faríamos também. E no final de tudo
um alívio.
O tempo anterior à reposição é curioso porque o paulo-outro está sempre ao nosso lado, como uma sombra-outra. O tempo vai caminhando, essa sombra vai-se tornando distante e, quando menos se espera, há um toque no ombro.
Conhece-me? Sim, e estou aqui para te lembrar que tudo vai voltar.
Mais uma vez as referências, tornadas no palco em angústias, dúvidas, procuras. Os fragmentos que se querem conjugados num só.
Vacila-se. A queda.
Depois erguemo-nos, agora mais conscientes, mais alertas, mais felizes, até.
A travessia feita com sucesso.

Neste momento, a angústia de nada mais voltar a ser como era. Porque a vida é mesmo assim, se tiver que ser. A revolta de se viver em suspensão.
Fechar-se-á a cortina?
Paulo Martins