quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Diário-Construção X

Voltar ao útero materno. Sentir o espanto do mundo que nos envolve, a sede do líquido materno. Os primeiros passos, sem antes deixar de ser cúmplice com o chão que nos vai, contra gosto, beijando. A descoberta de um objecto metálico, frio, que me permite levantar e novamente tropeçar. Cresço e deixo-me invadir por um outro ser, estranho, arrogante, indisposto com a vida e com o mundo. Abandono, sem querer, a tranquilidade de um casulo que vou desejando e que me prende, no entanto. E ao subir as escadas recordo, por breves instantes, o monolítico presente em "2001 - Odisseia no Espaço". O osso, outrora corpo, passa a arma lançada no espaço, a nave que levará a personagem a envelhecer. A subida é feita com dificuldade mas sem hesitações. Olho o espaço lá em baixo. Volto-lhe as costas, agora mais acordado. Fecho os olhos.
E há um jogo de xadrez que me hipnotiza.
Paulo Martins

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