Para quem faz trabalho de actor, os ensinamentos de Stanislavski são sempre uma referência, uma orientação e até uma inspiração. A primeira ideia interessante que retenho da leitura do primeiro texto sobre a criação de um papel é a da divisão desse trabalho em três grandes períodos: período de estudo, período de experiência emocional e período de encarnação física. Gosto da forma como ele parece separar tão claramente estes períodos e sinto que, mesmo que não consigamos distingui-los com igual clareza no nosso trabalho de criação de um papel, a consciência da diferença entre cada um deles pode ajudar (e muito!) no percurso.
Outra ideia interessante: “na linguagem do actor, conhecer é sinónimo de sentir”. Acho que devemos dar muita atenção a esta afirmação, tão cara ao mestre russo. De facto, nós tendemos a ser muito cerebrais na abordagem de uma peça e na criação do nosso papel, construímos tudo de uma forma lógica, quando se calhar deveríamos fazê-lo de uma forma psicológica. Se calhar devemos deixar-nos vibrar com qualquer coisa que o papel nos transmita de afinidade ou de “familiaridade emocional” e criar a partir daí uma linha que dê sentido às partes obscuras do papel, em vez de querermos logo explicar racionalmente todas as coisas que nos custa perceber. Dito de outra maneira: acho que, pelo menos de início, deveríamos evitar a obsessão de explicar tudo e privilegiar a atitude de vibrar com alguma coisa. Pode ser só uma cena, ou um trecho, ou até uma fala; se despertar uma emoção suficientemente intensa e verdadeira, será o bastante para, a partir daí, criarmos o papel.
Paulo Vaz
Sem comentários:
Enviar um comentário