ExCena Grupo de Teatro
domingo, 22 de abril de 2012
Balanço
Mais uma vez, foram para nós noites mágicas, de órbita e de alquimia, em que nos sentimos transpor os umbrais da realidade factual para a atmosfera da realidade teatral, em que conferimos um significado diferente a objetos comuns que manipulamos, em que aceitamos dar um sentido diferente às pessoas comuns que nós próprios somos.
Terminamos com a sensação de "prova superada": de um simples exercício fizemos uma peça, de um texto despretensioso extraímos um trabalho de criação enriquecedor (em termos de composição de personagem e de contracena).
Sabemos, entretanto, que não fomos perfeitos: tudo poderia ter sido melhor. Sabemos também que não somos exímios: todas as opções que tomamos poderiam ter sido diferentes, porque, em teatro, tudo pode sempre ser de outra maneira. É por isso que a crítica é fundamental no nosso processo de correção e aperfeiçoamento.
Esperamos, pois, que este possa ser um espaço de diálogo sobre o nosso trabalho. Para melhorarmos, sempre.
E obrigado . A todos os que assistiram ao "Jogo das Damas". A todos os que nos acompanham nesta aventura do teatro. "Obrigado por virem ao teatro. Nunca deixem de vir. Nunca deixem de se confrontar com esta realidade que vos devolve a vossa própria realidade. Nem que seja a brincar."
domingo, 18 de março de 2012
O Jogo das Damas, de Álvaro Cordeiro
Berenice, Violante e Gardénia, três jovens com temperamentos completamente diversos que têm em comum a solidão e a busca de um companheiro, realizam uma apresentação formal diante de uma câmara de vídeo, seguindo as instruções de uma orientadora particularmente ríspida e autoritária.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Sonho (Mas Talvez Não), de Luigi Pirandello
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Análise
“Em arte, o sentimento é que cria e não o cérebro”. Esta ideia parece-me particularmente interessante quando abordo o período de estudo da peça para a criação do papel. Desta vez resolvi fazer isso mesmo: analisei todas as cenas a partir dos sentimentos e emoções que captei na minha personagem (pelo menos aquelas que percebi nas primeiras impressões após a leitura). E escrevi cábulas num caderninho, para partilhar com o resto da equipa quando abordarmos as cenas em conjunto. Se todos os actores seguirem um processo semelhante, teremos uma panóplia de sentimentos para cruzar e pôr em comum quando começarmos a trabalhar a implantação das cenas.
Geralmente, nos nossos processos, preocupamo-nos em ter as cenas montadas o mais cedo possível, para «vermos a coisa a funcionar» e, com isso, ganharmos estímulo para avançar. Dou comigo a pensar que, desta vez, e dadas as características específicas do texto que estamos a trabalhar, talvez fosse boa ideia criarmos as cenas a partir do cruzamento de sentimentos das diferentes personagens, e só depois nos preocuparmos com as marcações, as movimentações, gestos, etc.. Ou melhor: o que quero dizer é que poderia resultar mais genuíno se essas marcações, essas movimentações e esses gestos resultassem da configuração exterior das emoções e dos sentimentos. Seria mais «stanislavskiano»... e talvez não fosse pior...
Paulo Vaz
sexta-feira, 12 de junho de 2009
O primeiro contacto com o papel
Para quem faz trabalho de actor, os ensinamentos de Stanislavski são sempre uma referência, uma orientação e até uma inspiração. A primeira ideia interessante que retenho da leitura do primeiro texto sobre a criação de um papel é a da divisão desse trabalho em três grandes períodos: período de estudo, período de experiência emocional e período de encarnação física. Gosto da forma como ele parece separar tão claramente estes períodos e sinto que, mesmo que não consigamos distingui-los com igual clareza no nosso trabalho de criação de um papel, a consciência da diferença entre cada um deles pode ajudar (e muito!) no percurso.
Outra ideia interessante: “na linguagem do actor, conhecer é sinónimo de sentir”. Acho que devemos dar muita atenção a esta afirmação, tão cara ao mestre russo. De facto, nós tendemos a ser muito cerebrais na abordagem de uma peça e na criação do nosso papel, construímos tudo de uma forma lógica, quando se calhar deveríamos fazê-lo de uma forma psicológica. Se calhar devemos deixar-nos vibrar com qualquer coisa que o papel nos transmita de afinidade ou de “familiaridade emocional” e criar a partir daí uma linha que dê sentido às partes obscuras do papel, em vez de querermos logo explicar racionalmente todas as coisas que nos custa perceber. Dito de outra maneira: acho que, pelo menos de início, deveríamos evitar a obsessão de explicar tudo e privilegiar a atitude de vibrar com alguma coisa. Pode ser só uma cena, ou um trecho, ou até uma fala; se despertar uma emoção suficientemente intensa e verdadeira, será o bastante para, a partir daí, criarmos o papel.
Paulo Vaz
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Recomeço
domingo, 14 de dezembro de 2008
Boas Festas
Diário-Construção XIV
Não foi nada fácil o convívio contigo. Não por causa do teu mau feitio, dessa tua forma leve de encarares a vida. Não sabes como te invejo em determinados aspectos. Ou talvez saibas. Mas a convivência entre as pessoas está dependente de factores exteriores. E interiores. Há uma amiga que nos conhece que fala em fragilidades. E são elas que nos levam a determinados comportamentos. Nem sempre é fácil perceber quando é que o xadrez, esse jogo que tu tão bem conheces, melhor do que eu, é igual à vida ou um pouco como a vida. Ou não é de todo a vida. Se há momentos em que temos que nos unir a peças diferentes para mais facilmente podermos vencer os obstáculos e as jogadas numa confrontação de forças, outras há em que tudo depende só e só de nós. Para que te pudesse conhecer, para que pudéssemos jogar xadrez, beber numa espelunca poções (quase intragáveis), foi preciso que tivesse que pisar, de novo, aquelas tábuas. Nunca saberás como isso se tornou assustador, desta vez. Aterrador, diria mesmo. E ainda não percebi o motivo. Foi bom ter a voz reconfortante e tranquila de alguém que sempre ali esteve perto e que nos conhece. Muito bom mesmo. Eu e tu tivemos a oportunidade, noutros espaços, noutros locais, de conversar, de simplesmente… estar. Houve momentos em que se perdeu tempo. E o tempo é-me cada vez mais precioso. Talvez demasiado. Porque a felicidade, como tu um dia me disseste, pode passar diante de nós e nós não a aproveitamos. E depois pode já ser tarde. Contaste-me alguns dos teus segredos, às vezes ajudado pelas boas doses de poção mágica. Os cálices continuam a ser demasiadamente enchidos. Há aspectos em ti que nunca perceberei. Talvez tenha que ser mesmo assim. E há, também, uma tranquilidade infindável nisso.
Não sei o que irás fazer depois de descobrires a verdade do jogo de xadrez. E eu não poderei ver a tua reacção porque, entretanto, terás apanhado o comboio em direcção ao destino que sempre sonhaste. Não irás sozinho, decerto. E eu terei chegado tarde para vos ver partir. Mas sei que já terás uma solução. Talvez faça sentido (ou comece a fazer!) tantos rolos fotográficos, acabados de comprar, dentro daquela tua mochila, velha, gasta, cheia de nódoas e com um inconfundível cheiro a tabaco e aguardente. Vou ter saudades da tua também velha máquina fotográfica.
Sim, Armando, é verdade, chegámos ao fim. E quando lá chegares, vai aos locais onde estive e que tu tão bem conheces. E num trago de uma poção mágica recorda a magia deste espaço onde tudo aconteceu.