quinta-feira, 19 de junho de 2008

Diário-Construção VII

Mais do que a frustração de não se conseguir decorar o texto à velocidade que se quer, é o facto de já se ter decorado texto, já se terem feito as cenas e, subitamente, tudo se esquecer, de uma semana para a outra. Não que não se tenha lido todos os dias o texto. Não que não se tenha tentado decorar mais texto. Não que não se tenha escrito as notas das marcações, de ideias que vão surgindo, à noite, quando se pode, se consegue decorar texto. Mas, simplesmente, porque se ficou em branco. Marcações, gestos, personagem, tudo parece feito numa primeira vez. Tudo parece sair com uma incoerência gigantesca. E, acima de tudo, a sensação que se está a prejudicar o grupo. Porque o avanço de uns só é feito, também, com o dos outros. Poderão ser utilizadas as mais variadas (e verdadeiras) desculpas: os dias que não se almoçam por causa de uma profissão cada vez mais voraz, cada vez mais desgastante, os dias em que se chega a casa e só apetece fechar os olhos por causa de um cansaço pesado que nos afasta de um texto cada vez mais preciso, os problemas-outros que nos vão fazendo caminhar de uma forma mais lenta e arrastada...
Hoje foi assim. Fragmentos de um actor amador que por o ser ama o teatro e sente a dor de não o conseguir fazer.
Apetece fechar a cortina.
Paulo Martins

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