Desde que comecei a escrever teatro, sempre escrevi para actores. Isto é duplamente verdade.
Primeiro: porque concebo a escrita teatral como um desafio (escondido?) para o trabalho de actor, ou seja, gosto de criar personagens, gosto de vê-las fugirem de mim no papel e gosto ainda mais de ver o actor pegar nelas e transformá-las em qualquer outra coisa ainda mais fugida de mim. Nesse sentido, encaro a escrita teatral como o primeiro passo da montagem teatral, uma espécie de laboratório de invenção da personagem que depois será construída pelo actor: a minha imaginação desenha os componentes, o texto experimenta a sua resistência e eficácia, mas só o actor conseguirá operar a montagem que sintetiza e depura tudo o que, até ali, foi apenas esboçado. Porque o palco é mais próximo da vida do que o papel e, por isso, a peça (e as personagens da mesma) são mais completas na cena implantada do que no texto escrito.
Segundo: porque existem actores reais que são a motivação para a minha escrita. Todo o teatro que escrevi até hoje foi em resposta directa a uma necessidade, muitas vezes porque havia um grupo com uma data marcada para uma estreia para a qual era preciso ter uma peça. Este é um dado de extrema importância, não só porque cria uma urgência que, de acordo com o meu temperamento, favorece o engenho, mas também porque define um objectivo imediato, dá-me a garantia de que o que escrevo será efectivamente representado em breve. Aspecto que chega a tornar-se vital para quem, como eu, existe apenas na e pela sua própria escrita...
Na verdade, se não fossem os actores reais, de carne e osso, para os quais escrevo, suponho que nunca me teria aventurado nos meandros da escrita teatral. A sua vontade de fazer teatro torna-me devedor de uma obrigação que só posso resgatar pela escrita. Por isso continuo a escrever. Por isso continuo a desejar que eles agarrem na minha escrita e a levem mais longe, transfigurando as personagens que lhes apresento e sublimando os textos que lhes dou em esboço. Sei que não é por mim que o fazem (e ainda bem!...). Sei que são amadores e que o fazem por eles próprios e pelo teatro. Encontramo-nos aí: essas são também as duas razões por que escrevo.
Álvaro Cordeiro
Primeiro: porque concebo a escrita teatral como um desafio (escondido?) para o trabalho de actor, ou seja, gosto de criar personagens, gosto de vê-las fugirem de mim no papel e gosto ainda mais de ver o actor pegar nelas e transformá-las em qualquer outra coisa ainda mais fugida de mim. Nesse sentido, encaro a escrita teatral como o primeiro passo da montagem teatral, uma espécie de laboratório de invenção da personagem que depois será construída pelo actor: a minha imaginação desenha os componentes, o texto experimenta a sua resistência e eficácia, mas só o actor conseguirá operar a montagem que sintetiza e depura tudo o que, até ali, foi apenas esboçado. Porque o palco é mais próximo da vida do que o papel e, por isso, a peça (e as personagens da mesma) são mais completas na cena implantada do que no texto escrito.
Segundo: porque existem actores reais que são a motivação para a minha escrita. Todo o teatro que escrevi até hoje foi em resposta directa a uma necessidade, muitas vezes porque havia um grupo com uma data marcada para uma estreia para a qual era preciso ter uma peça. Este é um dado de extrema importância, não só porque cria uma urgência que, de acordo com o meu temperamento, favorece o engenho, mas também porque define um objectivo imediato, dá-me a garantia de que o que escrevo será efectivamente representado em breve. Aspecto que chega a tornar-se vital para quem, como eu, existe apenas na e pela sua própria escrita...
Na verdade, se não fossem os actores reais, de carne e osso, para os quais escrevo, suponho que nunca me teria aventurado nos meandros da escrita teatral. A sua vontade de fazer teatro torna-me devedor de uma obrigação que só posso resgatar pela escrita. Por isso continuo a escrever. Por isso continuo a desejar que eles agarrem na minha escrita e a levem mais longe, transfigurando as personagens que lhes apresento e sublimando os textos que lhes dou em esboço. Sei que não é por mim que o fazem (e ainda bem!...). Sei que são amadores e que o fazem por eles próprios e pelo teatro. Encontramo-nos aí: essas são também as duas razões por que escrevo.
Álvaro Cordeiro
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