quinta-feira, 15 de maio de 2008

Diário-Construção III

… e há uma bola-pensamento que vai passando de mão em mão. É recebida com muita dificuldade. A bola é lançada com muita dificuldade e passa, como que por magia, a ser como um balão. Uma bola de basquetebol, uma bola de basebol. E de futebol também. Vamos dançando ao sabor desta bola-pensamento, que nos obriga quase a deitarmo-nos, ou a tornarmo-nos leves como o vento. O corpo vai aquecendo, a imaginação torna-se mais rica. O mundo, entretanto lá fora, vai ficando cada vez mais distante, ao contrário do ser-outro, que cada vez mais nos toca… ou quer tocar.

Surgem, depois, as palavras.
afinal foste tu quem eu não foste tu
Está criada a cadeia. Começa por ser fácil. Mas, depois, torna-se necessário reinventar. A intencionalidade que vai dar mais força à personagem. Vá lá, aparece mais um pouco, não te escondas. O texto teima em aparecer… Criada que está a cumplicidade entre todos, transformamo-nos em samurais. Porque a vida é feita de tensões várias. Porque a vida, também, é feita com o escuro. A bola-pensamento-espada. A distância entre os adversários é considerável. Are you talking to me?... Are you… talking to me?... Olhos nos olhos, caminhamos com a vontade de eliminar o obstáculo. O golpe tem que ser rápido e indolor. A vida toda naquele gesto. É necessário defendê-la a todo o custo e o olhar do adversário deverá ser transparente e previsível. É preciso guardar a tensão para a personagem. O golpe. A morte. E a vida.

Volto a sair daquele espaço onde estive durante uma semana. Quero as palavras. Mas sinto-me mudo. Saem feridas. Outro. Estou a aumentar, a olhos vistos a minha decadência. E ele, que não há maneira de me apresentar…!
E fecha-se a cortina.
Paulo Martins

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