Levantei-me e fui até lá. As mesmas conversas. Se ela ao menos soubesse. Não tive problemas com o que me ia pelo pensamento. Disse sempre aquilo que me apetecia, com uma fluidez que me deixava, por vezes, quase eufórico. Sei aquilo que quero e é por isso que vou lutar. É realmente curioso, o xadrez. É através daquele conjunto repetitivo de quadrados pretos e brancos que vou construindo as minhas jogadas mais subtis. Ela devia mesmo remodelar aquela espelunca.
Volto ao texto. É deveras curioso todo este processo. A memória é uma caixinha de surpresas. Voltaram a abrir-se determinadas gavetas e o texto, já esquecido, surgiu, de uma forma quase espontânea. Com ele, novas ideias, a vontade de experimentar novos caminhos. É verdade que muito ficou por fazer de uma profissão que se quer sorridente mas cada vez mais tristonha e cinzenta. Mas se é verdade que quando uma borboleta bate as asas num sítio noutro se forma um ciclone, então há que tentar o equilíbrio entre aquilo que se é e aquilo que se gostava de ser. Afinal, somos mesmo dois. Ou mais. É necessário trabalhar para o grupo e pelo grupo. Neste processo, cheio de surpresas e de novas aprendizagens, é importante que se dê a volta a um texto que parece ainda um pouco marcado pelo não-acontecimento. A vida-outra não vai facilitando. Mas é neste remar contra a maré que, por vezes, se consegue chegar ao cais. Aquele... sabem...? o dito por Pessoa.
E fecha-se a cortina.
Paulo Martins
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