quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Diário-Construção XIII
domingo, 23 de novembro de 2008
Diário-Construção XII
sábado, 22 de novembro de 2008
terça-feira, 18 de novembro de 2008
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
A parte de fora e o lado de dentro
Vista por fora, a peça é maior ou menor perfeição, fluidez narrativa, verosimilhança cénica, consistência de personagens; vivida por dentro, é a meta (ou o ponto visível tornado meta) de um percurso feito de interrogações, obstáculos, riscos, falhanços, insistências, dúvidas, persistências, conquistas, sonhos e realidades.
O teatro é fascinante por isso: a parte de fora é diferente do lado de dentro. E não é de todo a mesma coisa apreciá-lo de um local ou do outro da invisível parede vivencial que separa a cena do anfiteatro, que afasta os actores do público.
Por isso, as sensações, emoções e reflexões que “Isto Não Aconteceu” proporciona a todos quantos já assistiram à sua representação são claramente diferentes das sensações, emoções e reflexões que a peça provoca em quem está envolvido na representação e encenação do texto. E, por isso mesmo, o testemunho que dela se pode dar é sempre parcial, sempre incompleto.
Talvez o verdadeiro sentido da peça esteja no misto das duas coisas: a parte de fora e o lado de dentro. Mas quem poderá saborear essa plenitude?
Talvez eu, que escrevi o texto. Talvez esse verdadeiro sentido, a que actores e público só acedem em parte, corresponda a uma espécie de essência primordial – a ideia! – que está contida no texto (e que, porventura, o texto não consegue transmitir nem mesmo a quem o desmonta para o implantar em cena…).
Permitam-me esta vaga presunção: acho que, no fundo sou eu quem, no acto da escrita, consegue saborear, ainda que fugazmente, a verdadeira dimensão de tudo o que acontece à volta de “Isto Não Aconteceu”… de fora e por dentro.
Hão-de dizer-me que, nesse caso, eu poderia testemunhar da forma mais completa o significado de tudo. É verdade, e é isso que eu faço. Por isso escrevi o texto.
Álvaro Cordeiro
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Está quase!!!
Sónia Ferreira
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Antestreia
Não posso intervir na montagem da peça. E, se pudesse, creio que não gostaria de fazê-lo, porque o meu momento é o da escrita. E eu gosto demasiado de fruir o meu momento para ser capaz de interferir na fruição dos momentos próprios de quem desmonta o texto, constrói as personagens (o fascinante trabalho de actor!) e implanta o texto em cena, introduzindo-lhe apontamentos e variações insuspeitas para mim, mas que talvez já lá estivessem…
Sinto sempre um sabor especial, quando se aproxima a data de estreia de uma peça escrita por mim. É uma espécie de plenitude acompanhada de dúvida, uma grande satisfação por saber que há um grupo que se entusiasmou suficientemente com o texto para ousar levá-lo à cena sem saber se, afinal de contas, ele interessará a alguém.
É sempre isto que me faz não querer escrever, de cada vez que me apetece escrever: esta sensação de que não há mais nada para dizer, porque decerto já tudo foi dito da melhor maneira possível por todos os seres humanos dotados da capacidade da escrita que escreveram antes de mim. E, no fundo, acaba por ser exactamente esta convicção de que todas as minhas ideias são tão pouco interessantes que me desafia a lançar-me novamente na aventura da escrita, na mira de conseguir um resultado que mereça algo mais do que o destino do cesto dos papéis.
Sinto sempre um sabor especial, quando se aproxima a data de estreia de uma peça escrita por mim. E, no caso de “Isto Não Aconteceu”, esse sabor é mesmo especial. Porque escrever este texto foi um grande desafio para mim; porque montar este texto em peça foi (está a ser e creio que continuará a ser) um grande desafio para os actores e encenadores; porque assistir ao espectáculo será também um desafio para o público: afinal, até onde quererão levar a sério toda aquela brincadeira, até onde quererão rir da seriedade de tudo aquilo?...
Sinto sempre um sabor especial, quando se aproxima a data de estreia de uma peça escrita por mim. O que vale é que tudo passa depressa, grosseiramente depressa. A firme impaciência dos sonhos impele-me para a frente e a frágil complacente memória das coisas permite-me encolher os ombros e perguntar: será que, afinal, isto aconteceu?
Álvaro Cordeiro
Ensaios - "Isto Não Aconteceu"
sábado, 8 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Diário-Construção XI
Há estados de espírito muito difíceis de explicar. O do momento de antecipação da estreia é um deles. Há qualquer coisa que se começa a formar, muito subtilmente, no estômago. Parece um vazio, por vezes. Outros, uma espiral que vai crescendo. O corpo vai-se preparando, ao longo do dia para o grande dia. É uma antecipação que se pode tornar num medo enorme de saltar para o palco, para esse mundo onde muitos eu-outros passarão a comandar uns quaisquer destinos designados por uns quaisquer deuses. Depois, há aquele claro nervosismo, como se estivessemos no topo de uma montanha gelada e o nosso corpo, simplesmente, não nos obedecesse, tal o frio interior que se sente. Os primeiros minutos são de terror puro. Os músculos vão acalmando, aquela entidade que paira sobre nós e que tudo controla vai-nos dizendo
goza o momento deixa-te ir aproveita a oportunidade do privilégio que é aqui estares porque o que estás a fazer é especial.
Deixamo-nos ir. É o tudo ou nada. Se algo falhar será necessário improvisar, gritar pela ajuda de quem ali está, com os olhos. E esperar que, no fim, saíamos daquele espaço com um sorriso nos lábios, pelo tanto que se deu, pelo tanto que se viveu. Porque, depois, amanhã, é um novo dia.
Paulo Martins