quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Diário-Construção XI

Há estados de espírito muito difíceis de explicar. O do momento de antecipação da estreia é um deles. Há qualquer coisa que se começa a formar, muito subtilmente, no estômago. Parece um vazio, por vezes. Outros, uma espiral que vai crescendo. O corpo vai-se preparando, ao longo do dia para o grande dia. É uma antecipação que se pode tornar num medo enorme de saltar para o palco, para esse mundo onde muitos eu-outros passarão a comandar uns quaisquer destinos designados por uns quaisquer deuses. Depois, há aquele claro nervosismo, como se estivessemos no topo de uma montanha gelada e o nosso corpo, simplesmente, não nos obedecesse, tal o frio interior que se sente. Os primeiros minutos são de terror puro. Os músculos vão acalmando, aquela entidade que paira sobre nós e que tudo controla vai-nos dizendo

goza o momento deixa-te ir aproveita a oportunidade do privilégio que é aqui estares porque o que estás a fazer é especial.

Deixamo-nos ir. É o tudo ou nada. Se algo falhar será necessário improvisar, gritar pela ajuda de quem ali está, com os olhos. E esperar que, no fim, saíamos daquele espaço com um sorriso nos lábios, pelo tanto que se deu, pelo tanto que se viveu. Porque, depois, amanhã, é um novo dia.

Paulo Martins

Sem comentários: